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sexta-feira, 29 de junho de 2012

l'attendre


Tomou coragem. Encheu o peito de ar, olhou em volta mais uma vez e, enfim, entrou no trem. Observava todos como se fossem juízes e lhe recriminassem por sua covardia. Estava doente, não pensava na gravidade da situação. Faltava-lhe coragem para aceitar. Contava as horas para que toda aquela situação tivesse um fim.

Tinha de fazer aquilo por si só, mas foi necessário que aquele amigo das fotos lhe abrisse os olhos e lhe forçasse a aceitar. Foi um dia estranho aquele. Era sexta, mas a animação havia ido embora já cedo.

O amigo das fotos lhe convencera a ir ao médico. Demorou um pouco a aceitar, mas sabia que alguém ao seu lado seria de extrema importância. Mas era ele, o amigo das fotos. Talvez um estranho. Não sabia ao certo com quem contar. Imaginava o amigo das fotos como um incentivador, um irmão. Não tinha certeza disso, mas sabia que não havia uma relação ali.

Estava no trem ainda, e imaginava o que diria ao médico, ou médica, não sabia ainda quem lhe atenderia. O constrangimento e a vergonha lhe batiam à porta só de pensar em se expor, mas era necessário. O amigo das fotos esperava apenas uma mensagem, e sairia de casa ao seu encontro.

O trem seguia, mas as horas passavam cada vez mais lentamente. O medo lhe consumia. A vergonha parecia apresentar a todos os seus sintomas. De longe, os óculos escuros escondiam a verdade de seu olhar. Mas tinha absoluta certeza de que os estranhos ao redor sabiam bem o que se passava.

O trem chegou a seu terminal, mas ainda devia pegar o metrô que levava ao centro. Desceu e esperou em um dos bancos daquele terminal. Não tinha forças para continuar, mas o amigo das fotos, mais um estranho em quem confiava do que propriamente um amigo, lhe enviou a fatídica mensagem. Estava lhe aguardando.

Olhou em volta e, por alguns instantes, não ligou para a opinião de mais ninguém. Ergueu-se respirou fundo e foi. Decididamente o amigo das fotos lhe dava as forças e a coragem que lhe faltavam para continuar.

Subiu as escadas, entrou no metrô, conferiu se os documentos estavam na carteira e mandou a tal mensagem. O amigo das fotos saiu de casa e foi a seu encontro. Chegou finalmente ao seu destino.

O amigo o esperava próximo a uma das saídas. Seguiram em direção àquele pronto atendimento. Entregou seus documentos à recepção e, só então, a atendente se pronunciou. Não era ali seu atendimento. Passou-lhe o endereço correto. Seguiram em direção ao ponto onde lhe atenderiam.

Entrou no consultório. Era em uma aconchegante casa do século XX. Quem lhe atendeu foi um jovem simpático que, finalmente, fez com que tudo parecesse mais leve. O amigo das fotos tentou lhe acalmar. Tudo ia bem. A coragem voltou. A calmaria reinava. Mas algo ainda fazia seu coração bater mais forte. A espera era assustadora.

A porta de uma sala se abriu. Lá de dentro uma voz feminina chamou por seu nome. Tudo ia bem, mas agora, devia ir. O amigo das fotos esperou que entrasse. Olhou em seus olhos, disse algo que o amigo não conseguiu compreender. Virou-se e entrou. A tortura chegara ao fim. As dores cessariam, e saberia enfim o motivo de tudo aquilo.

O amigo desceu. Acendeu um cigarro ou dois. Aguardava seu retorno. A consulta acabou. A espera acabou.

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