Tomou
coragem. Encheu o peito de ar, olhou em volta mais uma vez e, enfim, entrou no
trem. Observava todos como se fossem juízes e lhe recriminassem por sua
covardia. Estava doente, não pensava na gravidade da situação. Faltava-lhe
coragem para aceitar. Contava as horas para que toda aquela situação tivesse um
fim.
Tinha
de fazer aquilo por si só, mas foi necessário que aquele amigo das fotos lhe
abrisse os olhos e lhe forçasse a aceitar. Foi um dia estranho aquele. Era
sexta, mas a animação havia ido embora já cedo.
O
amigo das fotos lhe convencera a ir ao médico. Demorou um pouco a aceitar, mas
sabia que alguém ao seu lado seria de extrema importância. Mas era ele, o amigo
das fotos. Talvez um estranho. Não sabia ao certo com quem contar. Imaginava o
amigo das fotos como um incentivador, um irmão. Não tinha certeza disso, mas
sabia que não havia uma relação ali.
Estava
no trem ainda, e imaginava o que diria ao médico, ou médica, não sabia ainda
quem lhe atenderia. O constrangimento e a vergonha lhe batiam à porta só de
pensar em se expor, mas era necessário. O amigo das fotos esperava apenas uma
mensagem, e sairia de casa ao seu encontro.
O
trem seguia, mas as horas passavam cada vez mais lentamente. O medo lhe
consumia. A vergonha parecia apresentar a todos os seus sintomas. De longe, os
óculos escuros escondiam a verdade de seu olhar. Mas tinha absoluta certeza de
que os estranhos ao redor sabiam bem o que se passava.
O
trem chegou a seu terminal, mas ainda devia pegar o metrô que levava ao centro.
Desceu e esperou em um dos bancos daquele terminal. Não tinha forças para
continuar, mas o amigo das fotos, mais um estranho em quem confiava do que
propriamente um amigo, lhe enviou a fatídica mensagem. Estava lhe aguardando.
Olhou
em volta e, por alguns instantes, não ligou para a opinião de mais ninguém.
Ergueu-se respirou fundo e foi. Decididamente o amigo das fotos lhe dava as
forças e a coragem que lhe faltavam para continuar.
Subiu
as escadas, entrou no metrô, conferiu se os documentos estavam na carteira e
mandou a tal mensagem. O amigo das fotos saiu de casa e foi a seu encontro.
Chegou finalmente ao seu destino.
O
amigo o esperava próximo a uma das saídas. Seguiram em direção àquele pronto
atendimento. Entregou seus documentos à recepção e, só então, a atendente se
pronunciou. Não era ali seu atendimento. Passou-lhe o endereço correto.
Seguiram em direção ao ponto onde lhe atenderiam.
Entrou
no consultório. Era em uma aconchegante casa do século XX. Quem lhe atendeu foi
um jovem simpático que, finalmente, fez com que tudo parecesse mais leve. O
amigo das fotos tentou lhe acalmar. Tudo ia bem. A coragem voltou. A calmaria
reinava. Mas algo ainda fazia seu coração bater mais forte. A espera era
assustadora.
A
porta de uma sala se abriu. Lá de dentro uma voz feminina chamou por seu nome.
Tudo ia bem, mas agora, devia ir. O amigo das fotos esperou que entrasse. Olhou
em seus olhos, disse algo que o amigo não conseguiu compreender. Virou-se e
entrou. A tortura chegara ao fim. As dores cessariam, e saberia enfim o motivo
de tudo aquilo.
O
amigo desceu. Acendeu um cigarro ou dois. Aguardava seu retorno. A consulta
acabou. A espera acabou.
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