Num
canto qualquer daquela sala havia uma velha cadeira de balanço. Sentou-se e ali
permaneceu lendo o mesmo livro de sempre. Não havia terminado ainda. Ajeitou-se
da maneira mais confortável possível. Esticou o braço ajeitou a vela por cima
da mesa de modo que esta, iluminasse as páginas do livro.
Estava
só e a eletricidade da casa havia acabado. O escuro era total, exceto pela
chama flutuante da vela que iluminava aquele canto. Parou um certo tempo,
observou o balançar da chama que queimava aquele pavio com cheiro gostoso. A
chama queimava, e em meio a ela, uma flor surgiu.
Parou
um instante e observou apenas a flor de fogo que queimava.
Pensou
em tudo o que estava passando. Pensou em se livrar das provas. Não podia deixar
que descobrissem a tal doença. Não queria que descobrissem.
Na
verdade o isolamento era característica forte de sua personalidade. Não gostava
de contar sobre sua vida. Um livro fechado. Um sonho guardado. Pensamentos
secretos, que ninguém diria ter.
Voltou
à leitura do livro, e o sono não demorou a chegar. Adormeceu ali mesmo, na
velha cadeira de balanço. A chama dançava enquanto dormia, e consumia, devorava
sem pena a triste cera que permanecia imóvel. O pavio de um barbante especial,
exalava um aroma suave. Do lado de fora, a noite caíra.
...
Permaneceu
ali por um certo tempo. Mas o telefone tocou. A energia ainda não havia
voltado. A vela já havia sido consumida pela metade. Não sabia quanto tempo
permanecera ali, vagando em sonhos, mas ficou feliz ao ouvir o toque do
telefone.
O
toque ecoou pela casa por mais alguns instantes. E por todo o tempo, soou ser a
única coisa viva em todo o ambiente. Levantou-se. Atendeu.
Uma
voz suave e feminina falou. Não soube o que dizer. Não soube ao certo que
ouviu. Apenas agradeceu e se despediu. Desligou. Sentou-se novamente na cadeira
de balanço. Havia levado uma coberta que lhe cobriu perfeitamente. Estendera as
pernas sobre a cadeira que se encontrava à sua frente.
Olhou
mais uma vez a bela chama dançante. Procurou pela flor de fogo, mas como era de
se esperar, esta já havia sido consumida pela exímia dançarina. A vela estava
amargando suas últimas gotas. A cera derretia melancolicamente. Vagarosamente.
A
eletricidade ainda não voltara. Enrolou-se na coberta. Ajeitou-se novamente. A
casa ficou em silêncio. O sono chegou. Tentou ainda olhar em volta e ver se a
luz chegara. A noite se estendia. A luz da lua lançava uns poucos raios pela
janela.
Adormeceu
ali mesmo. A dançarina, que consumira a flor de fogo, que consumira a cera sem
piedade e que exalava um aroma inebriante permaneceu ali por mais alguns
instantes, até que adormeceu também e se apagou.
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