Páginas

quarta-feira, 27 de junho de 2012

la fleur de feu

Num canto qualquer daquela sala havia uma velha cadeira de balanço. Sentou-se e ali permaneceu lendo o mesmo livro de sempre. Não havia terminado ainda. Ajeitou-se da maneira mais confortável possível. Esticou o braço ajeitou a vela por cima da mesa de modo que esta, iluminasse as páginas do livro.

Estava só e a eletricidade da casa havia acabado. O escuro era total, exceto pela chama flutuante da vela que iluminava aquele canto. Parou um certo tempo, observou o balançar da chama que queimava aquele pavio com cheiro gostoso. A chama queimava, e em meio a ela, uma flor surgiu.

Parou um instante e observou apenas a flor de fogo que queimava.

Pensou em tudo o que estava passando. Pensou em se livrar das provas. Não podia deixar que descobrissem a tal doença. Não queria que descobrissem.

Na verdade o isolamento era característica forte de sua personalidade. Não gostava de contar sobre sua vida. Um livro fechado. Um sonho guardado. Pensamentos secretos, que ninguém diria ter.

Voltou à leitura do livro, e o sono não demorou a chegar. Adormeceu ali mesmo, na velha cadeira de balanço. A chama dançava enquanto dormia, e consumia, devorava sem pena a triste cera que permanecia imóvel. O pavio de um barbante especial, exalava um aroma suave. Do lado de fora, a noite caíra.

...

Permaneceu ali por um certo tempo. Mas o telefone tocou. A energia ainda não havia voltado. A vela já havia sido consumida pela metade. Não sabia quanto tempo permanecera ali, vagando em sonhos, mas ficou feliz ao ouvir o toque do telefone.

O toque ecoou pela casa por mais alguns instantes. E por todo o tempo, soou ser a única coisa viva em todo o ambiente. Levantou-se. Atendeu.

Uma voz suave e feminina falou. Não soube o que dizer. Não soube ao certo que ouviu. Apenas agradeceu e se despediu. Desligou. Sentou-se novamente na cadeira de balanço. Havia levado uma coberta que lhe cobriu perfeitamente. Estendera as pernas sobre a cadeira que se encontrava à sua frente.

Olhou mais uma vez a bela chama dançante. Procurou pela flor de fogo, mas como era de se esperar, esta já havia sido consumida pela exímia dançarina. A vela estava amargando suas últimas gotas. A cera derretia melancolicamente. Vagarosamente.

A eletricidade ainda não voltara. Enrolou-se na coberta. Ajeitou-se novamente. A casa ficou em silêncio. O sono chegou. Tentou ainda olhar em volta e ver se a luz chegara. A noite se estendia. A luz da lua lançava uns poucos raios pela janela.

Adormeceu ali mesmo. A dançarina, que consumira a flor de fogo, que consumira a cera sem piedade e que exalava um aroma inebriante permaneceu ali por mais alguns instantes, até que adormeceu também e se apagou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário