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terça-feira, 5 de junho de 2012

le silence

O relógio marcava oito horas. Já não chovia, mas estava frio. Em um banco da estação de metrô, lia um livro qualquer. Não esteve em silêncio em nenhum momento, mas sua concentração era tanta, que se dedicou à leitura por um longo período.

Não houve silêncio absoluto, até que aquele trem saiu da plataforma. Pareceu-lhe que o mundo havia sido desligado.

Ao partir, aquele trem levou consigo todo o som que impregnava aquela estação. O silêncio se fez, por fim, absoluto. A leitura estava realmente agradável, mas em determinado momento algo maior lhe chamou a atenção.

Na plataforma em frente, do outro lado da estação, encontra-se uma senhora, com uma linda criança em seu colo. Em meio àquele silêncio tranquilo e assustador, algo incomodou aquela criança.

Um som alto ecoou por toda a estação. Algo entre medo e alegria. A criança se tornara uma mulher. Seu choro ecoava por toda a estação. Seu riso se fez presente. Só agora, no entanto, começou-se a notar qualquer com no ambiente.

Os sons eram diversos, e começaram tímidos. Um homem pega uma bebida em uma dessas máquinas de guloseimas. Um casal, à sua esquerda, conversava e aumentava o som de sua risada. Trocavam carinhos. A criança chorava do outro lado da estação. E os trens novamente se fizeram presentes.

Naquele curto período de tempo, passos mais fortes começaram a aparecer, máquinas se faziam escutar, por fim, vozes surgiram, comentando os mais diversos assuntos. Pessoas paravam, esperavam. Sentavam-se ao seu lado. Trocaram olhares, nada tão demorado.

A mulher, que em meio àquele barulho sincronizado evocado por sua voz, tornara-se novamente uma bela criança no colo de sua mãe. Nada mais parecia desligar-lhe do mundo. A criança gritou novamente. Tentara, sem sucesso, silenciar tudo... novamente. Como não conseguira, chorou por alguns instantes. Não um choro escandaloso, mas um choro baixinho, quase sussurrado.

O relógio marcava agora oito e quinze. Tudo acontecera tão rápido. Voltou os olhos para o livro que lia. A história não mais lhe pareceu interessante. Reparou que estação estava vazia ainda. Muitos trens haviam passado, mas o ambiente ainda era o mesmo.

Pessoas passaram por ali, mas não se fizeram notar como aquela criança. Pessoas corriam contra o tempo, queriam logo o aconchego do lar. Olhavam umas às outras. Um tom de indiferença no ar. Uma indiferença coletiva. O silêncio reinava entre elas. A seriedade também.

Mais um trem passara por aquela plataforma, e só agora pode perceber que a mulher e a criança haviam ido embora. Olhou um pouco mais o que se passava. O desenrolar de milhões de histórias, todas ali, juntas ao mesmo tempo.

O livro permanecera aberto, mas seus olhos fitavam a vida. O casal que estivera ali o tempo todo, esperou agora pelo seu trem, embarcou e se foram. Ainda no banco da plataforma, fechou o livro, guardou-o na mochila e embarcou no primeiro trem.

Decidiu ir de encontro com o acaso. Se deixou levar.

Um comentário:

  1. Que legal, Arthur! Gostei da forma como você escreve, não dá vontade de parar de ler. Parabéns pelo blog!

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