Não houve silêncio absoluto, até que aquele trem saiu da
plataforma. Pareceu-lhe que o mundo havia sido desligado.
Ao partir, aquele trem levou consigo todo o som que
impregnava aquela estação. O silêncio se fez, por fim, absoluto. A leitura
estava realmente agradável, mas em determinado momento algo maior lhe chamou a
atenção.
Na plataforma em frente, do outro lado da estação,
encontra-se uma senhora, com uma linda criança em seu colo. Em meio àquele
silêncio tranquilo e assustador, algo incomodou aquela criança.
Um som alto ecoou por toda a estação. Algo entre medo e
alegria. A criança se tornara uma mulher. Seu choro ecoava por toda a estação.
Seu riso se fez presente. Só agora, no entanto, começou-se a notar qualquer com
no ambiente.
Os sons eram diversos, e começaram tímidos. Um homem pega
uma bebida em uma dessas máquinas de guloseimas. Um casal, à sua esquerda,
conversava e aumentava o som de sua risada. Trocavam carinhos. A criança
chorava do outro lado da estação. E os trens novamente se fizeram presentes.
Naquele curto período de tempo, passos mais fortes começaram
a aparecer, máquinas se faziam escutar, por fim, vozes surgiram, comentando os
mais diversos assuntos. Pessoas paravam, esperavam. Sentavam-se ao seu lado.
Trocaram olhares, nada tão demorado.
A mulher, que em meio àquele barulho sincronizado evocado
por sua voz, tornara-se novamente uma bela criança no colo de sua mãe. Nada
mais parecia desligar-lhe do mundo. A criança gritou novamente. Tentara, sem
sucesso, silenciar tudo... novamente. Como não conseguira, chorou por alguns
instantes. Não um choro escandaloso, mas um choro baixinho, quase sussurrado.
O relógio marcava agora oito e quinze. Tudo acontecera tão
rápido. Voltou os olhos para o livro que lia. A história não mais lhe pareceu interessante.
Reparou que estação estava vazia ainda. Muitos trens haviam passado, mas o
ambiente ainda era o mesmo.
Pessoas passaram por ali, mas não se fizeram notar como
aquela criança. Pessoas corriam contra o tempo, queriam logo o aconchego do
lar. Olhavam umas às outras. Um tom de indiferença no ar. Uma indiferença
coletiva. O silêncio reinava entre elas. A seriedade também.
Mais um trem passara por aquela plataforma, e só agora pode
perceber que a mulher e a criança haviam ido embora. Olhou um pouco mais o que
se passava. O desenrolar de milhões de histórias, todas ali, juntas ao mesmo
tempo.
O livro permanecera aberto, mas seus olhos fitavam a vida. O
casal que estivera ali o tempo todo, esperou agora pelo seu trem, embarcou e se
foram. Ainda no banco da plataforma, fechou o livro, guardou-o na mochila e
embarcou no primeiro trem.
Decidiu ir de encontro com o acaso. Se deixou levar.
Que legal, Arthur! Gostei da forma como você escreve, não dá vontade de parar de ler. Parabéns pelo blog!
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