Páginas

terça-feira, 5 de junho de 2012

petits drapeaux

No ponto de ônibus, visto de cima, era apenas mais um círculo em meio a tantos outros. Com seu guarda chuva preto, seguia sua rotina de sempre. Esperava... naquele manhã chuvosa de segunda-feira.

Havia algo de estranho no ar. Olhava ao redor, pessoas se juntavam àquela espera, longa e extenuante, cada qual com seu guarda chuva. Vizinhos observavam o pequeno grupo que se formara. Na rua, triste e vazia, apenas as gotas da chuva se faziam perceber.

O dia não começou muito bem. Esperou pelo ônibus 103, que leva ao centro. Esperou pouco mais de meia hora. Desistiu. Voltou para casa. Abriu o portão, fechou o guarda chuva, entrou e o colocou num canto qualquer daquele longo corredor. Secou os pés, trancou o portão. Abriu a porta da sala e foi direto para seu quarto.

Deitou-se novamente em sua cama. Lhe vinha à mente as bandeirolas da festa. Festa essa que não fora. A decoração permaneceu lá por mais dois dias, e da plataforma da estação de trem podia ver os fios pendurados com bandeirinhas coloridas.

Em meio ao pátio gramado ainda restavam algumas barracas. Ligou o computador, foi a cozinha e preparou um chocolate quente. Era uma manhã chuvosa e fria. Voltou ao seu quarto, ajeitou-se entre as cobertas, ficando o mais confortável possível.

Vagou um pouco em seus pensamentos e, num instante repentino, pôs-se a escrever algo sobre as bandeirolas. Não havia ido à festa, mas começou a imaginar e viajar por entre a diversidade de cores das pequenas bandeirinhas, que juntas, de longe, pareciam encher aquele pátio de alegria.

Não tinha muito tempo, logo teria de sair para seu compromisso de sempre. Todas às tardes, no horário de sempre. Escreveu pouco mais que uma página e decidiu não mostrar aquilo a ninguém.

Olhava pela janela daquele quarto improvisado, e notou que o céu estava agora mais cinza do que antes. Colocou um ponto final em seu texto. Desligou o computador. Foi até a cozinha e preparou mais um chocolate quente, dessa vez, com uma dose bem caprichada de conhaque.

Tomou ali mesmo, próximo ao fogão com a chama ainda acesa. Olhou no relógio de pulso que roubara de alguém, viu que o sol já devia estar alto. Era hora do almoço. Porém, todos naquela casa pareciam dormir.

O silêncio era grande. Foi ao quarto, vestiu o casaco de lã, colocou a mochila nas costas e saiu sem pegar o guarda chuva.

O céu estava mais escuro agora. Chovia pouco, uma chuva fina e gelada. Trancou o portão. Foi ao ponto de ônibus e pegou o 103, que leva para o centro. Sentou-se em um banco qualquer. Desceu antes de chegar à estação de trem. Decidiu ir a pé naquele dia.

Subiu as escadas da estação. Entrou. Desceu as escadas da plataforma. Sentou-se no banco de sempre. Ao seu lado sentou-se uma senhora. E só então percebeu que o pátio também estava cinza, e a única cor que deixava-se à mostra, ainda que timidamente, era o verde do gramado molhado.

As bandeirinhas não estavam mais lá. E o dia permaneceu cinza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário