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terça-feira, 1 de janeiro de 2013

lumières dans la bouteille


Observou seu quarto mais uma vez. Fechou a porta, a janela e agradeceu por tudo aquilo. Mirou o enfeite que decorava o teto e pediu por boas energias. Saiu dali, passou por cada cômodo. Trancou tudo e esperou o 103 que levava ao centro.

Pegou o ônibus como quem vai para sua primeira viagem. Não estava só. Sua família estava ali. E não havia no mundo companhia mais agradável. Não era do tipo que sai e comemora em um lugar diferente, ao contrário, sua casa era seu refúgio nessa época do ano.

Entraram no 103 que levava ao centro e lá foram, em direção ao show de luzes. A viagem durou cerca de uma hora e meia no máximo. Encontraram uma multidão de pessoas que, como eles, haviam ido ver à grande queima.

Assistiu aos shows. Compartilhou abraços com sua mãe, com seu pai. Gritou. Sorriu. Curtiu. Cada segundo daquele momento estava mágico. Sabia que algo lhe faltava. Talvez a presença de alguns amigos, alguns colegas. Seguiu a noite como uma criança.

Com sua câmera em mãos, fotografou. Olhava ao redor as pessoas. Felizes. Cada qual com seus sonhos, desejos e realizações. Cada qual com sua esperança. Era uma multidão gigante que, em poucos minutos, tomava conta da maior avenida da cidade. Se divertiam. Cantavam. Pulavam.

Ouviu canções que a tempos não ouvia. Pulou como quem pula em um brinquedo desses de inflar. Seu olho brilhava como nunca antes. Lembrou-se. Sabia o que faltava ali. Mesmo distante sabia que sua presença faria a diferença.

Os minutos iam passando com uma rapidez incrível e, assim, as horas se iam sem perceber. Dali a alguns instantes, como num passe de mágica, tudo iria começar novamente. Ao virar do ponteiro, em um segundo, tudo estaria de novo ali, em branco, esperando para ser escrito.

Havia chegado a hora. A multidão que tomava conta das ruas se preparava para aquele momento mágico. Sua família estava ali, vivendo junto aqueles instantes mágicos.

Tudo estava perfeito. E como em um passe de mágica números rolaram entre suas bocas. Contando cada um com firmes gritos de esperança. A cada número solto os olhos brilhavam mais forte, o coração batia mais acelerado, e o corpo vibrava de forma nunca antes vista. Era um momento único. Sabia que lhe faltava algo. Sabia que não estava ali, mas lhe era muito importante.

Palavras foram ditas, sonhos foram criados e vividos. Muitos sofreram. Muitos sorriram. E agora era a hora de tudo se iniciar novamente. Um novo ciclo. Novas oportunidades. Novos caminhos. Novas escolhas. Novos sonhos.

O povo gritou. O relógio seguiu seu trabalho. O ponteiro se aproximava da tão sonhada hora. A contagem se iniciou. Famílias se abraçavam. Casais se amavam. Pessoas curtiam. Ali, em meio a toda aquela multidão, lembrou-se apenas de uma coisa com a qual gostaria de estar.

Milhões de pessoas na principal avenida da cidade. Milhões de pessoas dançando, cantando e contando para a chegada do novo. Mas sabia que queria apenas uma coisa. E no momento mais esperado, aquele sorriso lhe veio à mente.

O céu clareou.

O novo chegou. Tudo parecia sonho. O amor apareceu. Luzes coloriam o negro da noite. A lua de longe observava. A multidão aplaudia e sorria como nunca. Eram crianças, milhões de crianças sonhando e desejando crescer e realizar seus sonhos e serem especiais.

Eram especiais. Eram humanos. Naquele momento a humanidade apareceu. O amor reinou. Em seu coração o sorriso de quem tanto amava. Em seus olhos, o brilho das luzes. Em seu pensamento o amor. Abraçou sua família. Cumprimentou alguns estranhos. Cumprimentou vidas. Sonhos. Desejos. Cumprimentou a esperança.

O espetáculo encerrava aquele ciclo tão ruim em sua vida, e dava espaço a novas experiências. Novos caminhos.

As luzes brilhavam. A música tocava. A família abraçada. O amor presente em seus corações. Permaneceu ali, sem que qualquer movimento lhe atrapalhasse. Permaneceu imóvel por um tempo. Olhando apenas para o céu, agradeceu. Juntou as mãos. Olhou para o céu. Agradeceu.

Estava ali, realizava um sonho também.

Aos poucos a multidão ia se espalhando. Aos poucos a avenida ia ficando com os vestígios de uma grande festa. Tudo correu bem. Tudo ia bem. Tudo seria bom. Procuraram algo para comer ou beber. Caminharam um pouco. Tomaram algo. Voltaram para casa mais vivos do que nunca. Voltou pra casa mais apaixonado do que nunca.

Seguiram noite adentro. Ao chegar, as luzes ali permaneceram. As luzes ficaram na mente, como em uma fotografia. No coração, as luzes ficaram, como em um sonho.

Despediu-se de todos. Desejou-lhes algo. Beijou cada um como se não os visse a muito. Entrou em seu quarto. Surpresa. As luzes estavam lá. As luzes permaneceram ali. As luzes estavam ali como havia deixado. Mas agora com mais brilho. Um brilho especial. As luzes na garrafa. As luzes na mente. Em uma fotografia. Em um sonho.

As luzes, em sua alma.

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