Era
apenas mais dia do ano. Era o último dia. Trinta e um de dezembro. O mundo não
acabou como muitos pensaram. A vida não acabou, estava apenas começando. E o
amor estava ali, pronto para reinar. E reinou.
O
ano não havia sido como planejado. Muitas tristezas, muitos passos errados.
Caminhos foram traçados, escolhas foram feitas e muita coisa mudou. Mas o amor
estava ali o tempo todo. Um sorriso e tudo estava bem. Um sorriso e o ano valeu
à pena.
Seus
sonhos não foram concretizados, e se mostravam longe de se concretizar. O mundo
estava ao seu redor e, no entanto, não pode aproveitar tudo o que desejou.
Viajou. Curtiu. Riu e se divertiu.
Caiu.
E se reergueu.
Amigos
estavam ali a seu lado, mas sempre há um jeito de estragar tudo. O poeta estava
certo, amizade se conquista. Demora-se um tempão para que isso aconteça.
Segredos sendo confidenciados. Risos secretos. Abraços cúmplices. E em um
instante tudo pode mudar. Uma palavra. Um olhar. Um momento apenas, e tudo pode
mudar.
Muita
coisa mudou, mas aquele era o último dia do ano. Tudo poderia começar a partir
dali. Tudo começaria a partir daquele instante onde o ciclo se acaba. Tudo
começaria a partir daquele segundo que dividia tudo. Tudo começaria ali,
naquele momento. Não como em um mundo novo. Apenas mais uma página em branco,
dentro do livro da vida.
Pensou
e refletiu sobre tudo o que havia acontecido. Muita coisa deveria ser
esquecida, mas como. Esquecer quando se comete um erro é simples, mas a dor de
quem sofre é eterna. A desconfiança. A dúvida. O erro permanece. Mas a mudança
pode amenizar. A mudança sincera pode encantar e reforçar os nós.
Muita
coisa aconteceu. Muita gente passou. Muitos. Tudo e nada, foi o que aconteceu
naquele ano. Tudo e nada, foi o que houve em sua vida. O amor estava ali. A
vontade de mudar. Mas o erro também esteve presente.
Passou
a última noite daquele ano interminável pensando. Refletiu sobre a vida.
Refletiu sobre si. A vida estava ali, pronta para caminhar. As páginas em
branco lhes eram entregues a todo momento, num período de vinte e quatro horas.
O livro da vida ainda não se fechara. Ainda havia algo a escrever.
Havia
muito a escrever.
Junto
a tudo o que amava, junto a tudo com o que conviveu, junto ao mundo que criou,
sentou-se e pôs-se a escrever. Não leu muito aquele ano, mas o fez mais que
antes. Trabalhou em coisas de que gostava. Desenhou. Cantou. Brincou. Viajou.
Conheceu o novo. Viveu a arquitetura e a natureza. Viveu e experimentou a
natureza. Viveu.
O
ano estava acabando. Restavam algumas horas. Dali para frente, muita coisa
havia de ser mudada. Mudou. Começou a revolução de que tanto falava. Começou a
revolução que estava à sua frente o tempo todo. Ouvira falar sobre o novo, mas
só ali efetivamente percebeu.
Não
queria continuar com os velhos hábitos. Não continuou. Não queria manter a
rotina. Não manteve. Queria amar. Amou. Queria sorrir e viver. Sorriu. Viveu. O
ano estava acabando em poucas horas. Mas em poucas horas o ano estaria
começando. Um novo volume de sua história. Um segundo. Um ponto final.
A
mudança caminhava a passos lentos, mas caminhava. A vida corria, mas sabia que
deveria e conseguiria alcança-la. Esqueceu-se dos passos errados, dos caminhos
obscuros. Apagou de sua vida todo o mal. Apagou de sua vida o fracasso.
Esteve
à beira do fim. Se salvou. Aquele sorriso lhe salvou. O sol do litoral lhe
salvou. Conheceu o sucesso. Conheceu o fracasso. As moedas estavam ali. As duas
faces lhe encantavam, e colecionava cada momento. Tudo faz parte da história.
Muita
coisa mudou, mas nada mudou tanto quanto seu desejo. Nada mudou tanto quanto
seu olhar. A vida lhe foi entregue, uma vida nova, uma vida ao amor. Páginas e
mais páginas lhe seriam dadas e tudo poderia mudar.
O
mundo não acabou. A humanidade sim. Mas o amor estava nascendo em seu coração. A esperança estava nascendo em
seu corpo. A vida estava nascendo no seu mundo.
Pediu
perdão. Ajoelhou. Abaixou a cabeça e aceitou seu destino.
O
ano estava acabando. Trinta e um de dezembro e tudo estava apenas começando. A
madrugada lhe guardava. O amor lhe guardava. As luzes iriam brilhar e, nesse
momento, tudo iria mesmo começar.
Mudou.
Tudo mudou. E a vida mais uma vez começou.
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