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sexta-feira, 6 de julho de 2012

la vie en un instant


Era um dia como outro qualquer. Uma manhã de sol brindou aquela sexta-feira. Fotos foram tiradas. Sorrisos intercalavam-se à seriedade da cidade. Os edifícios estavam lá, as pessoas não. O mundo girava e o tempo passava. Era apenas mais uma sexta-feira.

Naquela manhã acordou bem cedo. Tomou seu banho. Preparou um delicioso copo de chocolate com leite. Comeu um ou dois sanduíches leves. Pegou o que devia pegar e arrumou tudo em sua mochila. Saiu, como sempre, junto ao cansaço e seus pensamentos. Não queria que fosse mais uma sexta-feira qualquer. A rotina lhe vencia todos os dias. Esta era sua hora.

E foi. Esse foi seu dia.

Olhou para o céu. O sol brilhava. Colocou seus óculos escuros e esperou o 103 que levava ao centro. Estava indo em direção à grande metrópole. Entre cinzas e o azul do céu claro, andava com sua pequena câmera na mão. Olhava ao redor e imaginava, e olhava, e pensava. Tudo lhe corria bem. Tudo iria lhe surpreender.

Cores se sobressaíam em meio à selva de pedra. Sorrisos, olhares, conversas e ideias trocadas. Um papo cabeça. Um papo pro ar. Fotos. Imagens. Representações simples do nosso cotidiano. O mundo estava lá, as pessoas não. Os edifícios brilhavam imponentes à luz do sol da manhã. Não conseguia ver as pessoas. Não conseguia ver o humano.

Olhava, admirava. Contemplava o balançar das bandeiras. O passar dos automóveis. O silenciar das pessoas que se faziam obsoletas e ausentes. Contemplou a criatividade na selva de pedra. E viu, um olhar sincero, que lhe despertou. Pessoas surgiram. O mundo girava, as horas passavam, conversas iam e vinham. Pessoas se mostraram.

Caminhou muito, até não poder mais. Seguiu observando toda a magnitude humana. Toda magnitude de sua obra. Grandiosa. Preciosa. Exuberante.

Amigos faziam-lhe companhia. Pessoas se tornaram cada vez mais numerosas. Risadas surgiam aqui e ali. A pressa se fez notar. A vida na palma da mão. Tudo a um segundo, ali. Tudo em um segundo, já.

Aqui e agora eram leis. O mundo girava e a pressa se tornou maior. Carros passavam. Bicicletas buscavam espaço. O ponto de ônibus repleto de pessoas, de olhares, de vida.

Arte. Cultura. Pessoas. Vida. A selva de pedra era habitada. A selva de pedra por instantes, por horas, esteve ali. Estava viva, mas ninguém notou. Um garoto pôs a flor no cabelo da menina. A flor roubada do jardim de um dos edifícios se destacou em meio ao cinza da selva.

Câmeras e mais câmeras. Imagens e mais imagens. Representações do ser. Do ter. Do estar. Representações do humano. Uma volta na cidade. Uma volta na galeria. O sol brilhava alto. Sorria e castigava com seu calor. Observava a tudo e a todos. Reinava.

A fome chegou. Conversas murchas apareciam aqui e ali.  Sorrisos predominavam no ar. A caminhada instintiva. O almoço, duvidoso, mas a companhia mais agradável estava lá.

A presença do beijo. A presença do sorriso. Uma troca de olhares. Uma piscada discreta e tudo se resumiu ao desejo. Um alguém no meio da multidão. Um alguém com sentimentos. Um alguém que lhe desejou.

Sorriram. Não acenaram. Discretamente se despediram. Na fila do restaurante, uma conquista. O flerte. A vida em um instante. Não mais se sentiu triste. Com os óculos pendurados em sua gola. Uns amigos por perto. Alguém que lhe desejou.

Não mais se viram. Ganhou seu dia. Rompeu com a rotina, e a surpreendeu. Rompeu com a tristeza, e lhe disse adeus. Um olhar apenas. Um gesto, um sorriso, e tudo se esgotou. A vida, em um instante, aconteceu.

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