Entrou mais uma vez naquele trem, como era de rotina. Não
havia lugar livre. Sentou-se no chão junto a uma das portas. Em sua frente, das
janelas e vidraças da porta oposta podia se ver o mundo passar.
Sentada no banco ao lado da porta oposta estava ela.
Portava-se com a elegância de uma princesa. Tinha no rosto as marcas da idade,
já um tanto avançada. Levava consigo um olhar pesado. Ombros caídos, cansados.
Trocaram um olhar, e por um instante a flor na mão da dama
de vestido florido estremeceu. Seu balançar suave exalava a essência da
mocidade daquela senhora. Desviou o olhar da mulher. Olhou em volta e pode ver
o céu azul e limpo e leve que passava rapidamente pelas vidraças da porta
oposta.
Um homem com olhar triste e severo observava. Um outro,
falava ao telefone celular com a alegria de um ganhador da loteria. Uma moça em
pé lia sua revista e se atualizava sobre sua novela. E num banco qualquer do
seu lado esquerdo, duas mulheres colocavam as fofocas em dia.
Aquela era sua rotina. Entrava naquele trem. Sempre no mesmo
horário. Flutuava em suas ideias e sonhos, e observava todos à sua volta.
Olhava em seus olhos, pensava no que pensavam, pensava sobre o que fariam, para
onde iriam.
Anônimos. Estranhos. Pensantes. Olhares que iam e vinham
pela cidade. Rotinas cruzadas. A dama do vestido florido exalava isso. Estava
só, com a flor em sua mão. Pensava. Em que? Em quem? Não se sabe.
Olhou novamente à sua volta. Estava chegando a seu destino.
Pôs-se de pé. Não era a única pessoa naquela posição, mas todos os olhares se
voltaram para seus passos, seus atos.
O trem parou em sua estação. A dama de vestido florido
lançou-lhe um olhar. Desembarcou pela porta oposta e caminhou em direção às
escadas. O trem fechou-se em seu universo de ferro. Partiu. Rotinas seguiram na
grande centopeia metálica que serpenteava pela cidade. A vida seguiu.
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