Páginas

terça-feira, 3 de julho de 2012

la dame à la robe fleurie

Entrou mais uma vez naquele trem, como era de rotina. Não havia lugar livre. Sentou-se no chão junto a uma das portas. Em sua frente, das janelas e vidraças da porta oposta podia se ver o mundo passar.

Sentada no banco ao lado da porta oposta estava ela. Portava-se com a elegância de uma princesa. Tinha no rosto as marcas da idade, já um tanto avançada. Levava consigo um olhar pesado. Ombros caídos, cansados.

Trocaram um olhar, e por um instante a flor na mão da dama de vestido florido estremeceu. Seu balançar suave exalava a essência da mocidade daquela senhora. Desviou o olhar da mulher. Olhou em volta e pode ver o céu azul e limpo e leve que passava rapidamente pelas vidraças da porta oposta.

Um homem com olhar triste e severo observava. Um outro, falava ao telefone celular com a alegria de um ganhador da loteria. Uma moça em pé lia sua revista e se atualizava sobre sua novela. E num banco qualquer do seu lado esquerdo, duas mulheres colocavam as fofocas em dia.

Aquela era sua rotina. Entrava naquele trem. Sempre no mesmo horário. Flutuava em suas ideias e sonhos, e observava todos à sua volta. Olhava em seus olhos, pensava no que pensavam, pensava sobre o que fariam, para onde iriam.

Anônimos. Estranhos. Pensantes. Olhares que iam e vinham pela cidade. Rotinas cruzadas. A dama do vestido florido exalava isso. Estava só, com a flor em sua mão. Pensava. Em que? Em quem? Não se sabe.

Olhou novamente à sua volta. Estava chegando a seu destino. Pôs-se de pé. Não era a única pessoa naquela posição, mas todos os olhares se voltaram para seus passos, seus atos.

O trem parou em sua estação. A dama de vestido florido lançou-lhe um olhar. Desembarcou pela porta oposta e caminhou em direção às escadas. O trem fechou-se em seu universo de ferro. Partiu. Rotinas seguiram na grande centopeia metálica que serpenteava pela cidade. A vida seguiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário