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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

fechando as portas

Pintura finalizada. Chão lavado. Nenhum móvel atrapalhando. Luzes funcionando. Água encanada. Portas com óleo em suas dobradiças. Janelas limpas. E agora era oficial, ao fechar a porta daquela casa seria de fato oficial.

Por oito anos aquele foi o mundo de uma família. Tudo girava em torno de risos, choro, muito choro e muita alegria. Eram sua família, pelo menos uma parte dela. Um tio, uma tia e, como gostava de dizer e enfatizar, uma princesa, sua princesa.

Agora caía-lhe a ficha, não estavam mais ali. Foram embora, depois que a van virou a esquina à direita. Nada mais lhes ligava, exceto os traços sanguíneos. A casa já estava alugada. Dentro em breve uma nova família abriria aquelas portas.

Vistoriou tudo uma última vez e decidiu-se por não voltar ali enquanto estivesse vazia. Não desceu de fato. A casa que ficava em seu quintal, agora estava vazia e parecia nova.

Apagou a luz do quarto e fechou sua porta. Passando pela sala, olhou mais uma vez onde antes ela havia rascunhado uma estrela, talvez aos três anos de idade, e que agora a tinta nova apagara. Trancou a porta, fechou a janela e apagou a luz.

Fechou a porta do banheiro e chegou enfim à cozinha. Ali muitos momentos bons foram vividos e agora, ao apagar da luz, ficariam para sempre na memória.

Apagou a luz e saiu.

Trancou a porta por fora. Encostou-se na parede da frente, recém pintada. Olhou em volta, todas as luzes apagadas. O silêncio do vazio reinou naquele instante. Tudo estava escuro. Uma nova história começava ali.

O reinado daquela princesa, por ali, havia terminado. Seu legado, o rascunho da estrela, fora apagado pela tinta nova. Era noite, mas a luz não aparecera. Tirou a chave da fechadura. Segurou por mais alguns momentos a maçaneta de alumínio frio.

Saiu dali em direção à escada, deixando pra trás o quintal vazio e a nova casa. Apagou a última luz que faltava. Não olhou pra trás. Entrou em sua casa, foi para seu quarto. Deitou-se e adormeceu com a imagem de sua princesa em mente.